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Empoderamento feminino através do equilíbrio dinâmico entre vulnerabilidade e virilidade: a sexualid

  • Jaya Devi
  • 15 de mai. de 2018
  • 6 min de leitura

Para começar esse artigo, é fundamental que eu esclareça os conceitos de vulnerabilidade e virilidade bem como de feminino e masculino.

Comecemos por esses dois últimos. Eu não utilizarei os conceitos de feminino e masculino aqui relacionados aos gêneros, mas, sim como energias ou potências.

A energia feminina está relacionada com as qualidades da receptividade, do acolhimento e da entrega. Pensemos no útero como um exemplo da manifestação fisiológica do feminino. Ele é escuro/sombrio, para dentro, é “vazio”, dando-lhe a qualidade de receber o esperma masculino e gerar um nova vida dentro de si. A potência do feminino está exatamente nessa receptividade e acolhimento, no vazio e na sombra que é a própria entrega a esse mistério que faz a vida acontecer.

A energia masculina, por sua vez, traz a qualidade da projeção, da assertividade, da incisão. E aqui, o melhor exemplo fisiológico que representa o masculino é o pênis. Ele é voltado para fora, se endurece para penetrar e doar a sua semente da vida. A potência do masculino está na sua força incisiva, penetrativa.

A partir desses conceitos, acho coerente associar a vulnerabilidade ao feminino e a virilidade ao masculino.

Acessar a vulnerabilidade é abraçar as incertezas, inseguranças e medos da existência humana. Se render e se entregar ao não-saber, ao grande mistério que é a vida, reconhecendo que o controle é uma ilusão. Quando paramos de fugir do contato com nossas dores e abraçamos nossas inseguranças sem cair na fraqueza ou na vitimização, mas sim, à partir de uma atitude de rendição e devoção ao mistério que somos. A vulnerabilidade é a maior potência do feminino. E, acessar a nossa vulnerabilidade é, em si, o empoderamento feminino.

Como a virilidade entra nessa história de empoderamento? E que história é essa da sexualidade como portal para a transcendência não-dual? Caminhemos nessa direção.

Normalmente a virilidade é associada aos homens. Pensamos em um homem viril, mas, não em uma mulher viril. Porém, linguisticamente, a raiz da palavra viril, que é latina, é a mesma da palavra virgem. Segundo Monica Sjoo e Barbara Mor autoras do livro “The Great Cosmic Mother, Rediscovering the Religion of the Earth”: "Antigas sacerdotisas da lua eram chamadas de virgens. 'Virgem' significava não-casada, não-pertencente a um homem - uma mulher que era UMA EM SI MESMA. A palavra deriva do Latim, significando força, habilidade, e mais tarde foi aplicada a homens como 'viril'. Ishtar, Diana, Astarte, Isis eram todas chamadas Virgens, o que não se referia à sua castidade sexual, mas à sua independência sexual. E todos os grandes heróis de culturas passadas, míticos ou históricos, eram ditos serem nascidos de mães virgens: Marduk, Gilgamesh, Buda, Osíris, Dionísio, Genghis Khan, Jesus - todos eram reconhecidos como filhos da Grande Mãe, a Força Original, e seus enormes poderes provinham dela. Quando os Hebreus usaram a palavra, no original em Aramaico significava "mulher jovem", "donzela", sem conotações de castidade sexual. Mas, mais tarde, tradutores cristãos não puderam conceber a "Virgem Maria" como uma mulher de sexualidade independente; eles distorceram o significado para sexualmente pura, intocada, casta".

Podemos assim ver a virilidade como uma potência que brota da segurança em si mesma, de onde virá uma assertividade na ação, a capacidade de agir a partir da conexão com os seus talentos e dons mais íntimos. A virilidade só pode ter esse poder verdadeiro de asserção se a potência da ação, da projeção e da manifestação não vem de uma negação da vulnerabilidade, mas, sim, do abraço das nossas dores, angústias e inseguranças. Para ilustrar isso, me vem a figura de dois arquétipos, o da criança, que é o símbolo da vulnerabilidade, e o da mulher selvagem, que é o símbolo da virilidade.

Para que a mulher selvagem esteja plena em seu poder de delimitar o seu território e expressar as suas magias, ela precisa reconhecer as dores e as fragilidades da sua criança interna. Sem esse reconhecimento ela nem mesmo saberá quais são os contornos das suas fragilidades.

O real empoderamento feminino pode ser visto como um casamento entre essas duas potências, a vulnerabilidade e a virilidade, que também pode ser interpretado como um casamento dos aspectos feminino e masculino dentro de si.

E o que sexualidade tem haver com isso? A sexualidade é uma via de acesso aos instintos e necessidades mais primordiais e, portanto, primitivas, relacionadas à geração e perpetuação da vida. Ninguém pode negar que só estamos nesse mundo por conta do sexo. Portanto, me parece inegável que, através da sexualidade, também podemos acessar as nossas dores e medos mais ligados à sobrevivência. Essa potência da sexualidade de nos colocar em contato com o que é mais primordial, instintivo e primitivo na vida é a causa pela qual é tão conveniente para tantas pessoas negar a sexualidade. E por negação da sexualidade eu me refiro à dois padrões de comportamento. O primeiro é evitar o sexo, ou relegar a importância que a sexualidade tem na vida. O segundo é viver a sexualidade inconsequentemente e inconscientemente, anestesiando-se na busca por sensações cada vez mais intensas.

Na minha percepção, a sexualidade plena é, necessariamente, uma vivência de vulnerabilidade. É abri-se ao “outro”, que é o próprio desconhecido, sem esconder os nossos medos e inseguranças, ao mesmo tempo em que estamos conscientes o suficiente para que eles não se tornem barreiras de proteção que impeçam o contato. Me parece muito importante que, para a vivência plena da sexualidade, nós convidemos a nossa criança para o ato sexual. Porque rejeitar as inseguranças e dores da criança é abrir as portas para um sexo inconsciente. Ou seja, a sexualidade plena é colocar a criança para andar junto com a mulher selvagem. Mas, vá lá, também não dá para dar espaço demais para a criança fazer muita birra! E como isso é possível?

Um bom começo pode ser evocar as qualidades da curiosidade e da inocência da criança para brincarem na vivência sexual. E pode ser interessante começar a explorar isso, primeiramente, consigo mesma, antes mesmo de explorar junto com outra pessoa. Explore o seu corpo com a inocência de uma criança, seja curiosa sobre as possibilidades de sensações, conheça o seu genital, sinta-lhe o cheiro, a textura, o sabor, saia de objetivos pré-definidos e ideias pré-concebidas de certo e errado. Ou, simplesmente, perceba que existem certas tendências, mas, ouse ir além delas. E divirta-se!

Porém, saiba que nem tudo são flores. À medida que exploramos o nosso corpo, é inevitável entrarmos em contato com dores que estavam armazenadas e, talvez, até inconscientes. Você estará liberando padrões ancestrais, possivelmente, muito arraigados no corpo e na memória coletiva do ser mulher. Nem é algo tão pessoal quanto tendemos a pensar. Então, a cada contato, escute o teu corpo, fique mais íntima dele, respire essa dor, sinta como ela se manifesta em nível de sensação e emoção e, por fim, convide a sua mulher sábia, a anciã que tem dentro de você, a acolher tudo isso. Como assim?

Comece a acessar a percepção de que, à medida que você tem consciência sobre essas dores, há algo em você que se fortalece. Há algo em você, que aqui eu represento como o arquétipo da mulher sábia, que conhece essas dores, não as rejeita mais, porque não as teme tanto, não sendo, assim, por elas afetada.

Perceba a tendência de cair no lugar da vítima, da frágil e da coitadinha diante dessas dores. Respiremos também juntamente com esse padrão tão ancestralmente seguido pelas mulheres. Comecemos por reconhecer que não tem nada de coitadinha não. Na verdade, essas dores nos fazem mais fortes, mais humanas e potentes.

Sair desses lugares tão recorrentemente visitados, da negação da dor e da vitimização, e realmente se entregar à potência da vulnerabilidade, requer certo ímpeto viril, a coragem. Coragem para sair da identificação com a história dessas feridas, ou seja, com a persona que “sofreu” essas feridas, suas causas e consequências. Coragem para nos abrirmos para a confiança no próprio curso da vida que, por um mistério incompreensível à mente humana, nos faz existir.

A partir da abertura para essa confiança, podemos nos propor à investigação: o que em mim está consciente de todas essas dores? O que em mim está consciente de todas as experiências que eu já vive ao longo da minha vida? Essas são algumas perguntas chaves que nos abrem para a percepção não-dual. Para a percepção de que no final é tudo experiência. Para além dos quereres e julgamentos da mente, a vida toma conta de si, por si só, e eu não estou separada da vida. Na verdade, eu sou dela uma faísca, uma pulsão, uma manifestação. Essa percepção de que não há um “eu” separado da vida, mas, que só há a vida ou a consciência tomando forma de tantos “eus” em um constante processo de transformação, é o que nos permite vivenciar a totalidade da experiência humana plena e verdadeiramente.


 
 
 

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